sábado, 11 de outubro de 2008

Festivais de cinema

10/10/2008
Festivais na berlindaCultura e Mercado
Georgia Nicolau

Meio-ambiente, diversidade sexual, universidade, curtas, médias, documentários, longas, ficções. Grandes cidades, pequenas cidades, mídia e glamour ou filmes de baixo-orçamento, em digital ou película.
Desde o primeiro festival de cinema que aconteceu no Brasil, em 1954 em São Paulo, passando pela criação, em 1965, do mais antigo que se tem notícia, o Festival de Brasília, o circuito dos festivais nacional soma hoje 132 eventos abrangendo o mais variado espectro da produção audiovisual.
Nas últimas semanas, a importância dos festivais está sendo debatida por conta de uma declaração que o polêmico produtor Luís Carlos Barreto, o Barretão, deu à colunista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo. Maior e mais antigo produtor na ativa, (completou 80 anos este ano), Barretão declarou que o Sindicato Nacional da Indústria Cinematográfica, do qual é diretor honorário, quer combater a proliferação de festivais de cinema no país. Disse ele: "O Brasil gastou neste ano mais de R$ 70 milhões nesses eventos, dinheiro captado por lei de incentivo que poderia ter sido investido em dezenas de filmes. É uma verdadeira indústria e uma concorrência predatória com os cineastas."
A proposta apresentada por ele seria a de criar um selo de qualidade para onde os cineastas poderiam enviar seus filmes. Rapidamente o Fórum dos Festivais, entidade que representa quase a totalidade destes eventos, soltou uma carta defendendo que dos 132 festivais contabilizados pela entidade, mais de 85% deles realizam exibições gratuitas, movimentando 2 milhões de espectadores ao ano, além de criar 6 mil empregos diretos.Nas listas e blogs a classe cinematográfica se manifestou. Afinal, o dinheiro investido em festivais poderia ser investido em produção? O dinheiro arrecadado via incentivos fiscais e patrocínios poderia ser destinado à construção de parques exibidores? A realização de festivais é a melhor forma de dar acesso à população brasileira ao cinema aqui produzido?
A Associação Brasileira de Documentaristas-SP, instituição que nasceu em um dos mais antigos festivais, a Jornada da Bahia, foi a única entidade a soltar um pronunciamento oficial. Em entrevista, o presidente da associação Romeu Di Sessa disse que a decisão foi tomada antes que a idéia tomasse corpo, porque os festivais são "peças fundamentais em todo o sistema cinematográfico brasileiro." Di Sessa considera a diversidade dos temas algo positivo. "Cada festival tem funções especificas, como criar badalação em cima de artistas, discutir questões indígenas, homossexuais, femininas, ambientais ou o que quer que seja, servir como plataforma comercial dos filmes, enfim, cada festival tem seus objetivos peculiares, e todos eles são válidos. Qualquer maneira de amar (cinema) vale a pena."
Para Zita Carvalhosa, fundadora e diretora do Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo e presidente da Associação Cultural Kinoforum, que, entre outras coisas edita o Guia dos Festivais de Cinema e Vídeo, os festivais não podem ser considerados excessivos, pois atingem um público que é cúmplice de cada evento. Zita, que é também diretora do Fórum dos Festivais, acha que além de dar visibilidade aos novos produtos sendo lançados os festivais estão formando um circuito alternativo de exibição, em locais que não oferecem ao público o circuito comercial- no Brasil inteiro são apenas 2.200 salas comerciais. "Acredito que o circuito de exibição em festivais deve ser incluído na estratégia de distribuição de um filme."Se considerarmos os dados de uma pesquisa setorial feita pelo Fórum dos Festivais em parceria com a Secretaria do Audiovisual do MINC, o circuito dos festivais é hoje nacional. Os resultados mostram que excetuando Roraima e o Acre, todos os estados brasileiros possuem pelo menos um festival. No estado do Amazonas, são quatro.
Diretor do primeiro filme que Barretão participou, Roberto Farias concorda com as afirmações de que o dinheiro dos festivais poderia ser investido em mais filmes ou em salas de cinema. Porém, para o cineasta, isso não implicaria em garantia nenhuma para o setor. "Ninguém garante que não investindo em festivais os recursos irão para as salas ou para a produção." Farias defende para o cinema nacional outra proposta: de que os incentivos à produção sejam oferecidos depois do filme pronto, não antes. "Há recursos para triplicar a rendas dos filmes nacionais em forma de Adicional de Renda."Sobre a proposta dos selos de qualidade, Farias se posiciona contra. "Selos de qualidade, não. De importância, sim. Não há a menor dúvida que Festivais como o do Rio de Janeiro, de São Paulo, Brasília, Gramado, Recife, Fortaleza e Florianópolis são os mais importantes. Isso não significa que um festival como o de Tiradentes, de Parati ou São Luís do Maranhão não tenham qualidade. Cada festival tem sua característica e personalidade." Já Zita abraça a proposta de Luis Carlos Barreto, com a ressalva de que é preciso estar aberto para os novos festivais. "Acredito que alguns festivais seriam sim valorizados com uma política de selos de qualidade, mas sempre teremos eventos novos que deverão ser experimentados."
A produtora propõe um debate mais amplo sobre a qualidade dos eventos. "Temos sem dúvida festivais melhores e eventos piores como temos filmes melhores e filmes piores. Quem daria o selo de qualidade? O Fórum de Festival propõe a seus integrantes um código de ética que deve ser cumprido por seus integrantes. Esse selo garante alguns quesitos de qualidade interessantes. Mas, se ele será considerado como um selo de qualidade depende da avaliação dos que estão em busca dessa qualidade."Diante da afirmação de que alguns festivais são esvaziados e mal-programados, a presidente da Associação Kinoforum defende que um festival que não funciona deveria ter dificuldades de se financiar. "Um festival depende do que exibe e de quem assiste, sem esses elementos não dá para ter continuidade."http://www.culturaemercado.com.br/post/festivais-na-berlinda/

Recebido pela Associação Brasileira de Roteiristas